quarta-feira, 29 de junho de 2011

Charges do Clássico

O Flamengo venceu o Fluminense por 4 x 1 em partida pelo
Campeonato Brasileiro.
 
  


Futebol não fica só nas 4 linhas, nada melhor do que seu time ganhar e no dia seguinte poder brincar com os amigos do time adversário, e para apimentar essa disputa a anos os jornais não deixam de lado as charges, tratando com humos e irreverência toda essa rivalidade.

   Muitos são os chargistas especializados em esportes, e trago a entrevista de Mario Alberto, chargista do Jornal o Lance para contar um pouco sobre suas criações.

   Mario começou a desenhar charges em 1994 quando inscreveu um trabalho no Salão de Humor da Casa de Cultura Laura Alvim e foi premiado com uma Menção Honrosa. Em 1997, publicou uma caricatura do Ronaldo no jornal O Dia e, logo em seguida, fui contratado para trabalhar na equipe original do Lance, onde esta desde então.

   O gosto pelo desenho na infância acabou o levando para o curso superior de Programação Visual na Escola de Belas Artes da UFRJ onde teve contato com o ilustrador e professor Rui de Oliveira, um dos maiores ilustradores do Brasil e, porque não, do mundo. “Quando tive minhas primeiras aulas com o Rui, descobri que eu poderia sim ser um desenhista profissional e logo comecei a realizar trabalhos freelancer como ilustrador para agências de publicidade e editoras” diz o ilustrador.

   Seu enfoque nem sempre foi o esporte, mas acabou sendo seu "carro chefe" profissional:

“90% do meu trabalho no Lance é voltado para o futebol que, não tem jeito, é a grande paixão esportiva nacional. Na verdade, acho a charge esportiva futebolística até mais difícil de fazer do que a charge propriamente dita, que, geralmente, é política. Na política, o público está do mesmo lado que o chargista: o da crítica ao governo e aos políticos. Na charge esportiva, temos o chargista de um lado e o público, leia-se torcedores, do outro. Um público, diga-se de passagem, tão passional quanto conservador e que, de modo geral, não gosta que se façam piadas com o próprio time, não raramente considerando essas piadas "uma falta de respeito". Além disso, pra complicar, esse público não necessariamente curte piadas com os times adversários e quer, no fundo, no fundo, que o chargista faça a "anti-charge" que seria a charge elogiando ou celebrando as vitórias do seu clube. Digo anti-charge porque a charge, por princípio, deve ser crítica em seu teor e nem todos estão preparados para rir de si mesmo, ou de seu próprio clube do coração. Mãe de chargista esportivo é que nem mãe de juiz: vive com as orelhas quentes... 
O Fla ainda não havia engrenado no Brasileiro e o Flu
também não estava em uma boa fase. Àquela altura do ano, a Copa
Sul-Americana parecia um "salva-vidas" para os dois rivais. O
Rubro-negro acabou eliminado da competição e o Tricolor perdeu a final
para a LDU

  Perguntado quanto ao clássico FlaXFlu trazer mais visibilidade as suas criações Mario nega, porém mostra toda a plasticidade visual que o clássico remete. “O Fla x Flu é um clássico ímpar entre os "clássicos ímpares" porque é um símbolo da cidade do Rio de Janeiro como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a praia de Copacabana ou o próprio Maracanã e, por isso, tem uma simbologia muito forte. Só que isso não muda muita coisa na hora de fazer uma charge. Visibilidade e impacto dependem muito mais do momento, da situação de cada clube no dia e o quanto isso pode originar uma boa charge.


   A imparcialidade na hora de criar é alcançada por uma rotina dura de trabalho e anos de criação.
 “Quando estou de plantão, estou trabalhando e tenho que fazer o meu trabalho bem-feito porque eu
não quero perder o meu emprego. Além disso, estou sempre submetido ao horário de fechamento do jornal e às tarefas darias que devo cumprir, como ilustrações para matérias e colunas, e não sobra muito tempo pra torcer. Se, na hora de um jogo, eu ficar torcendo e me deixando levar pelas emoções ao invés de desenhar, não terei concentração para fazer um bom trabalho e, muito menos, irei conseguir entregar alguma charge apresentável até o meu horário limite de todos os dias. Curiosamente, depois de quatorze anos de charges esportivas, é cada vez mais natural para mim levar para as minhas horas de lazer essa tranqüilidade na forma de encarar os resultados dos jogos. Continuo sendo um torcedor fanático e me divirto bastante quando estou vendo um jogo como torcedor, mas acabado o jogo, durmo tranqüilo tanto na derrota quanto na vitória.

PM: _Foram muitos clássicos marcantes do Fla X Flu, gol de barriga do Renato, jogo da lagoa, algum foi mais marcante para você e suas criações?

MA: Quando comecei a trabalhar no Lance em 1997, o gol de barriga já tinha mais de "dois anos de idade" e, na verdade, esse foi o último Fla x Flu realmente marcante e decisivo até os dias de hoje. Depois disso, os dois clubes não se encontraram mais em uma decisão de fato. A partir do próprio ano de 1997, o Fluminense começou a viver a sua fase de rebaixamentos, o que fez com que vários Fla x Flus deixassem de ocorrer. Depois disso, o Flamengo emendou seguidas decisões estaduais contra Vasco e Botafogo e as únicas duas decisões de cariocas em que o Fluminense esteve presente foram contra Americano (2002) e Volta Redonda (2005). O Fla ganhou a Copa do Brasil de 2006 em cima do Vasco, o Flu levou a de 2007 sobre o Figueirense. A final da Libertadores de 2008 foi Flu X LDU. Os Brasileiros de 2009 e 2010 não tiveram final... Ou seja, Fla e Flu não se encontraram em jogos finais nas últimas grandes conquistas (ou grandes derrotas) de ambos e, em  um jogo tão especial como esse, acredito que isso seja um fator muito importante para gerar algum desenho marcante envolvendo os dois times na mesma charge.


Fla x Flu no domingo de Páscoa.
 PM: _ acredita que a charge desempenha um papel importante para aumentar a rivalidade do clássico e sua importância?
 
MA: Eu espero que nunca uma charge minha sirva para aumentar não só a rivalidade entre Flamengo e Fluminense, mas qualquer outra rivalidade. Pelo contrário, prefiro pensar que através do humor eu consiga fazer o torcedor perceber o quanto podem ser divertidas e engraçadas tudo o que envolve o futebol. Já temos rivalidade e violência demais para eu desejar que o meu trabalho aumente isso de qualquer forma que seja. Torcedor tem que torcer, tem que gritar, tem que comemorar a vitória e chorar a derrota, mas, após o jogo, seria muito mais legal se todo mundo saísse dali pra tomar um chopp junto e rir de todo esse "drama"... Eu, de minha parte, terei atingido o meu objetivo se as minhas charges ajudarem de alguma forma as pessoas a verem as coisas desse jeito.

PM: _Algum ídolo deste clássico ficou imortalizado em suas criações?

MA: Não sei se imortalizado seria o termo, mas ambas as torcidas já fizeram
bandeiras com desenhos meus, o que dá uma dimensão diferente para os
meus trabalhos.

No fim do ano passado, a torcida do Fluminense levou para o último jogo
do Campeonato Brasileiro um bandeirão com uma charge que fiz do Conca.
(anexo 20101030.jpg)

Link para o vídeo dessa matéria:
http://www.youtube.com/watch?v=VUS58juXgXQ (O bandeirão do Conca aparece
em 1:05)

No lado rubro-negro, desde 2007, a torcida organizada Urubuzada leva pros estádios uma bandeira com as caricaturas dos jogadores do time campeão mundial em 1981 (20061213.jpg)

Paula Morgado

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