Mário criou a mitologia do futebol brasileiro.
Com seu estilo literário simples, profundo e irresistível,
narrou de forma lírica, dramática e bem humorada a história
de ascensão e queda dos grandes ídolos e as batalhas épicas
dos grandes clássicos do futebol carioca.
Assim como Pelé é o rei do futebol mundial, o jornalista Mário Filho é o rei da crônica esportiva mundial. Sua obra é considerada única em termos universais. O que era a crônica no esporte antes dele? Para seu irmão, o dramaturgo Nelson Rodrigues: “Estava nas cavernas, na pré-história. Simplesmente não era. Simplesmente não existia”.
Antes do surgimento das crônicas do jornalista, as notícias veiculadas nos jornais sobre futebol limitavam-se apenas a relacionar, em poucas linhas, as presenças sociais de cartolas e ilustres. A abordagem era tão formal e cheia de expressões inglesas que mantinha uma distância significativa entre o torcedor e o esporte. Em 1925, quando Mário Filho começou a escrever nos jornais A Crítica e A Manhã, tudo passou a ser diferente. Suas crônicas valorizavam o futebol com uma linguagem de leitura irresistível, que captava o imaginário do torcedor e incrementava a sua paixão pelo esporte. Mário inventou a imprensa esportiva brasileira e levou o futebol para a primeira página dos jornais, registrando a transformação de um desporto de elite em esporte de massa. Ele também detectou, através do jogo da bola, sintomas de transição da sociedade da época, que passava a aceitar de forma progressiva a inclusão de negros, mestiços e brancos pobres.
O jornalista Mário Filho sempre teve a preocupação de transportar para o jornal aquilo que viria a ser a crônica, o conto e o romance. Suas reportagens, sempre feitas à mão, eram um êxtase para a multidão. De estilo literário simples, profundo e irresistível, iluminou a forma e as jogadas de gênios como Jaguaré, Leônidas, Garrincha e Pelé. Criador da mitologia do futebol brasileiro, durante 40 anos escreveu de maneira lírica e dramática, eternizando a ascensão e queda de grandes craques. Torcedor do Fluminense, assim como toda sua família, resolveu deixar de torcer pelo clube ou por qualquer outro para se tornar imparcial em suas análises. Escreveu diversos livros, como “Copa Rio Branco”, “Histórias do Flamengo”, “O Negro no Futebol Brasileiro” e “Copa do Mundo de 62”.
Além de cronista, o pernambucano Mário Rodrigues Filho comandou as redações de O Globo e do Jornal dos Sports. Inventou no Jornal Mundo Esportivo o primeiro concurso de escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, em 1932; promoveu os Jogos Infantis e os Jogos da Primavera, verdadeiras olimpíadas entre milhares de jovens; criou o campeonato de peladas do Aterro, considerado o maior do mundo; organizou o torneio de futebol Rio-São Paulo e criou a mística do clássico Fla x Flu, seu preferido. Em 1950, quando o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo, o jornalista liderou a campanha para construção daquele que, segundo ele, seria o maior estádio do mundo (sua capacidade atual é de 90 mil pessoas). Graças a seu papel na popularização do esporte, conseguiu convencer a opinião pública de que o antigo Derb-Club, na Tijuca, era o lugar perfeito para a instalação. Na época, Mário bateu de frente com os vereadores udenistas, Carlos Lacerda e Ari Barroso, que apontavam o distante bairro de Jacarepaguá como o local ideal para a construção do espaço. Por seu feito, ganhou do dramaturgo Nelson Rodrigues o título de “O Criador das Multidões”. Em 1966, ano de sua morte, o Estádio Municipal do Maracanã foi batizado com o seu nome - Estádio Jornalista Mário Filho.
Romeu, do Fluminense, e Leônidas, do Flamengo |
"Popular era Leônidas, o inventor da bicicleta. Mais do gosto do brasileiro. Pouco importava que ele se metesse em escândalos, que não se pudesse contar muito com ele. Talvez, inclusive, essa volubilidade de Leônidas ajudasse, tornando-o ainda mais querido. O clube que o tivesse precisava conquistá-lo todos os dias, todos os jogos. Já um Romeu Peliciari, mal comparando, era o marido que levava o embrulho de manteiga para casa, vivendo só para a família, nunca foi popular. E era brilhante, fazia da bola o que queria, e tinha manhas bem brasileiras. Bastava dizer que a melhor definição do “dribling”, a carioca, a mais gostosa, veio dele e não de Leônidas. Foi de Romeu o vai mais não vai, que é o “dribling” todo. Ele fingia que ia e não ia, e, às vezes, ia mesmo, sempre fazendo o que o outro não esperava que ele fizesse. Foi o que ficou dele, como quase a única contribuição. De quando em quando a gente vê um jogador dançar o vai mais não vai. Mas Romeu jogava grave, de cara amarrada, concentrado, não fazia as surpresas, como de mágico, de Leônidas da Silva, não plantava bananeiras, não dava bicicletas. E o povo queria era isso, o discurso de praça pública, o improviso, a anedota, o passo de samba, a viagem do capoeira" (Mário Filho)
“Foi o primeiro jornalista a dar destaque, ainda na crítica, à parte humana do futebol (...) Como disse seu irmão Nelson Rodrigues, Mário foi tão grande que deveria ter sido enterrado no Maracanã”. (Mário Neto)
“A obra de Mário Filho é importantíssima para se entender a história social do futebol e, mais do que isso, a história social do próprio país, nossos fundamentos, nossos dilemas, nossas contradições e nossas dúvidas”. (Maurício Murad)
Por Aline Leite
Gatinho esse Mário Filho hein... HAHAHAHAHA
ResponderExcluirFalando sério agora, adorei o post. Meu pai adora o Fluminense, vou mostrar pra ele!